Adeus, <i>American way-of-life!</i>

Pedro Campos
O muito cacarejado American way-of-life está a rebentar pelas costuras. Não há forma de parar a recessão. Há anos que os estado-unidenses vivem acima das suas possibilidades. A crise dos créditos hipotecários vai de mal a pior. As diferenças entre ricos e pobres, como um pouco por todo o mundo capitalista, vão crescendo. Mais e mais mães com filhos em idade escolar são obrigadas a trabalhar para equilibrar o orçamento familiar. Os americanos estão a tornar-se cada vez mais – por necessidade – em escravos do trabalho. Os ordenados não chegam e é preciso deitar mão ao crédito. Resultado: um estilo de vida que vai pela água abaixo... graças às maravilhas do sistema capitalista.
O povo norte-americano acostumou-se a viver do que não tem. Durante três décadas tem comprado para além do que podia e esse tempo está a chegar ao fim. É esta a opinião dos estudiosos mais insuspeitos da actual sociedade estado-unidense, como é o caso de Robert B. Reich, professor da Universidade de Califórnia, que analisa o assunto em «Supercapitalism», a sua obra mais recente. O americano dos nossos dias «esgotou as formas de manter o actual ritmo de despesas», afirma e conclui que «a única solução duradoura, para além de os cidadãos terem de aceitar um nível de vida mais baixo e de as empresas terem de se acostumar a uma economia de menores dimensões, é dar aos americanos das classes baixas e médias mais poder de compra – e não de uma forma transitória».
Analisando os níveis de vencimentos, Reich confirma que a média de salário/hora é hoje apenas superior à de há 35 anos, uma vez considerada a inflação. Também nos diz que o ordenado de um homem na casa dos 30 anos é actualmente 12% menos do que o de um seu homólogo de há 30 anos e que quem beneficiou desta situação durante essas três décadas foram os integrantes dos 5% mais ricos do país. Foi possível disfarçar tudo isto ao longo dos anos porque os americanos encontraram maneiras de conseguir viver acima dos seus vencimentos. Essa situação chegou ao limite e já não é possível mantê-la mais tempo.

A mãe tem de ir trabalhar

Uma das primeiras respostas à necessidade de manter o nível de vida foi pôr as mulheres a trabalhar, mesmo aquelas que tinham filhos ainda em idade escolar. Isto começou na década dos 70 e não sucedeu porque houvesse novas oportunidades profissionais para elas. Simplesmente, a necessidade obrigou a tal e hoje o número de mães a trabalhar é praticamente o dobro de 1970. Nesta situação estão cerca de 70% das mães com filhos em idade escolar.
Contudo, já não é suficiente que as mães trabalhem e deixem os filhos com as avós ou no jardim de infância. Joe também tem de trabalhar mais e mais e as oito horas diárias voltam a ser um sonho. Cada ano, o trabalhador norte-americano típico tem de dedicar uma parte maior do seu tempo diário – e o dia tem sempre 24 horas – ao trabalho. A necessidade transforma-o num escravo do trabalho e hoje ele trabalha perto de mais 350 horas anuais do que um congénere europeu. E até trabalha mais do que um laborioso japonês!
Mas tanto sacrifício não é suficiente e aparece então o recurso ao crédito como remédio milagroso. Durante os anos 90 e os primeiros anos do presente século os preços das casas subiram como espuma e isso serviu para refinanciar as hipotecas. Mas a actual crise dos créditos subprime pôs termo à utilização das casas como mealheiros.
Robert B. Reich, que também já foi professor em Harvard, está longe de ser de esquerda. É um homem do establishment, tão «politicamente correcto» que até foi ministro do Trabalho de Bill Clinton e recebeu, em 2003, um prémio da Fundação Vaclev Havel! Contudo, é ele quem chega à conclusão de «que também necessitamos de sindicatos mais fortes» e que os «trabalhadores deveriam ser capazes de formar um sindicato sem os actuais processos de certificação que dão aos patrões muitas possibilidades de os intimidar ou coagir». Parece pouco? Então ele vai mais longe: «Os trabalhadores deveriam poder decidir se formam ou não um sindicato simplesmente com uma maioria de votos (...) e os patrões que despedem trabalhadores porque tratam de organizar sindicatos deveriam ser obrigados a pagar multas severas». Actualmente a pena típica resulta tão insignificante que, segundo o autor, equivale a «uma palmadinha na mão» do patrão.
A american way-of-life é um milagre que abre falência.


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